Neurologista CRM 770

Nevralgia do Trigêmeo

O nervo trigêmeo, o V nervo craniano, tem seu núcleo de origem no tronco cerebral e parte alta da medula espinhal. Dos neurônios ali situados saem as fibras nervosas (axônios) que formam o nervo trigêmeo, que emerge do tronco cerebral ao nível da ponte e se dirige para frente por dentro do crânio. O nervo então forma o gânglio de Gasser e depois se divide em 3 fascículos (V1 = nervo oftálmico; V2 = nervo maxilar; V3 = nervo mandibular). Cada um desses ramos tem um trajeto diferente, atravessam os ossos do crânio por orifícios específicos e se dirigem à face e crânio.

O nervo trigêmeo é composto de fibras sensitivas que suprem a face e o couro cabeludo até a metade do crânio. Não fazem parte a orelha e abaixo da mandíbula. Esta área é dividida entre os 3 ramos do nervo: o olho e a região frontal é território do ramo V1 ou oftálmico. A asa do nariz, lábio superior, dentes da arcada superior, região maxilar e zigomática, do V2, o ramo maxilar. A região da mandíbula, dentes da arcada dentária inferior, lábio inferior e região temporal do crânio, ramo V3 que é o mandibular. A sensibilidade dentro da boca e da língua também é do nervo trigêmeo. O nervo trigêmeo também porta fibras motoras que movimentam os músculos da mastigação.
A manifestação clínica mais frequente é a NEVRALGIA (ou NEURALGIA) DO TRIGÊMEO. Trata-se de quadro clinico caracterizado por dor intensa tipo choque, abrupta e breve, geralmente no território de V2 ou V3, raramente em V1. Os pacientes descrevem a dor como choque elétrico ou facada ou pontada, muito intensa, que faz o paciente levar as mãos no local da dor. Est ador é conhecida como das piores do mundo. Em poucos casos há um fundo doloroso leve constante.

A dor pode ser desencadeada pela fala, sorriso, mastigação, escovar dentes, tocar de leve a região, lavar o rosto, portanto podem ser estímulos na face ou dentro da boca. O quadro é estritamente unilateral e quase sempre acomete um dos ramos isoladamente. A duração da dor vai de poucos segundos até 2 minutos, raramente mais do que isso. Podem ocorrer poucas a várias crises ao dia. Remissões por alguns dias ou mais, costumam acontecer na evolução.
A nevralgia do trigêmeo pode ser secundária quando existe uma causa específica como o acometimento pelo vírus herpes zoster e, neste caso, aparecem as lesões (vesículas) características na pele no local atingido, o que acontece mais no ramo V1. Outras causas a serem excluídas incluem tumor, ou outra patologia, que comprima o nervo na sua origem e esclerose múltipla comprometendo o núcleo ou o trajeto do fascículo dentro do tronco cerebral. Nestes casos o exame neurológico pode demonstrar alterações que sugiram o diagnóstico como parestesias ou perda de sensibilidade na face. Traumatismo de face pode ser uma causa assim como o que pode suceder a tratamentos odontológicos.

O nervo trigêmeo participa de um outro tipo de dor crânio-facial, que compromete mais o olho e região circunvizinha e se acompanha de sinais autonômicos como edema palpebral, hiperemia ocular e lacrimejamento. São as cefaleias trigeminovasculares das quais a mais conhecida é a cefaleia em salvas (cluster headache) que se apresenta em crises agrupadas durante dias seguidos e intervalos livres de semanas ou meses, até de anos.
Um dos diagnósticos diferenciais mais frequentes e importantes são as patologias dos dentes e das articulações temporomandibulares. Por isso quase sempre os casos de dor facial exigem uma interrelação do neurologista ou do neurocirurgião com os especialistas destas outras áreas de atuação.

A nevralgia do trigêmeo sem causa aparente (que era denominada “essencial”) não mostra alterações ao exame neurológico. Em metade dos casos existe um conflito neurovascular na emergência do nervo no tronco cerebral, geralmente uma artéria que comprime a raiz do trigêmeo. Em outra proporção não existe esta patologia e não se encontra fator etiológico plausível.
Na nevralgia do trigêmeo o tratamento sintomático é realizado com medicamentos que boqueiam os canais de sódio. Quando a ressonância magnética visualiza a compressão da raiz do nervo por uma estrutura vascular, existe a abordagem cirúrgica específica que afasta o vaso do nervo e o protege, com excelentes resultados. Existem outras técnicas cirúrgicas menos invasivas e também através de radiocirurgia. Estas alternativas são realizadas em condições especiais por indicação do neurocirurgião com a preferência do paciente.

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