Neurologista CRM 770

Um Passeio pela América

Parte I: Canadá

Agosto de 1979

Em 1973 estávamos em Londres havia 1 ano, Ilneyda e nossos filhos Adriano e Leandro, onde eu estava realizando  pós-graduação no Institute  of  Neurology,  Queen Square.  Durante meu estágio na Neurofisiologia Clínica conheci o trabalho do Prof. Allan McComas que estava radicado em Newcastle Upon Tyne no norte da Inglaterra. Aprendi algumas de suas técnicas, entre as quais a contagem de unidades motoras.  Fascinado pelo seu trabalho, escrevi-lhe que gostaria de passar um tempo no seu serviço.

Prof. McComas muito gentil, disse que achava ótimo porém estava se transferindo para a McMaster University em Hamilton , Ontário, Canadá e que depois de algum tempo eu deveria fazer novo contato.

Morávamos na rua  Leinster Gardens em Lancaster Gate, bairro central de Londres, ao lado do Hyde Park. Como era região mais cara, eu resolvi procurar outro local para morar. Comentando isso com Miss Harris, secretária do Institute, ela me disse que por coincidência um professor havia se transferido para o Canadá e deixou o seu apartamento para alugar. Visitei o local em Hampstead, gostei e para lá mudei com a família. O apartamento era do Adrian Upton justamente quem havia ido para o Canadá para trabalhar com o Prof McComas.

Mais alguns meses e escrevi ao Prof McComas e recebi uma resposta entusiasmante. O Prof. estava encantado com o Canadá e com as facilidades que lá encontrara. Ofereceu-me até uma bolsa de estudos para facilitar. Marcamos para janeiro de 1974 a minha ida para a McMaster.

Tive que vir ao Brasil para uma cirurgia de minha mãe. Visitando a Faculdade de Medicina da UFG fiquei sabendo que um colega Carlos Roberto de Faria estava realizando especialização em Engenharia Médica e estava executando estudos de fisiologia de esfincteres do trato digestivo. Como era meu conhecido, inclusive havia sido colega da minha esposa no ginásio, nos encontramos para trocar algumas ideias. Mostrei a ele os trabalhos de Neurofisiologia que eu estava vendo em Londres e o Faria se entusiasmou e disse-me que iria tentar entrar neste campo.

Ao voltar para Londres houve um acontecimento que fez mudar o meu destino. O Adriano teve um epiglotite aguda severa, tive que correr para um hospital, onde ficou internado por uns dias. Isto transtornou-nos, Ilneyda e eu, achamos que era melhor voltar para o Brasil.

Voltamos em janeiro de 1974. Logo que cheguei encontrei o Faria que havia feito contato com o Prof. Desmedt na Bélgica e estava preparando para fazer sua pós-graduação em Neurofisiologia.  Como eu havia desistido de ir para o Canadá, convenci o Faria que seria o melhor lugar para ele e que tentaria que o Prof. McComas o recebesse em meu lugar. O Prof. McComas não só aceitou como me disse que seria ótimo devido aos conhecimentos que o Faria tinha da Engenharia Médica.

O Faria fez um curso com sucesso espetacular, voltou para trabalhar comigo no Instituto de Neurologia de Goiânia, onde introduziu todas as novas técnicas aprendidas, realizamos  muitos trabalhos científicos em parceria  e treinamos diversos especialistas na área.

Faria e eu estabelecemos um forte elo com McMaster, criamos uma “ ponte Goiânia-Hamilton” ou melhor “ Instituto de Neurologia – McMaster University”  e conseguimos estágios para residentes como Maria Ângela Tolentino e Giberto Mastrocola Manzano em Neurofisiologia, Miguel  Luiz Eliam em Neurocirurgia e até para o Marco Antônio de Castro, meu dileto amigo e compadre, na Obstetrícia.

Foi durante o estágio do Marquinho que eu e Ilneyda fomos passar um mês no Canadá.

Era agosto de 1979, deixamos os 4 filhos com nossos parentes, nesta altura  tinham chegado a Ilana e a Larissa. Era pleno verão canadense e como lá não tem nada preparado para conter o calor, estava realmente muito quente. A gente nem acreditava que no inverno congelava rios e lagos até as cataratas de Niagara e o morro que havia atrás da casa dos nossos anfitriões.

Foi então que frequentei o serviço do Prof. McComas. Como já havia decidido não atuar com Eletromiografia preferi frequentar o setor de Potenciais Evocados, logo sob a chefia do Adrian Upton. Em conversas lembramos de seu apartamento, dos passeios que fiz com a família no parque Hampstead  Heaths e lhe contei que estive visitando o serviço do Prof.  P.K. Thomas na recém inaugurada nova sede do Royal Free Hospital a poucas quadras do apartamento.

A técnica de Potenciais Evocadas era uma checa e foi muito paciente em me explicar como obter e interpretar aqueles sinais.

O Prof McComas, sempre um cavalheiro, me acompanhou durante todo o tempo no seu serviço. Deu-me a honra de oferecer, a mim e a Ilneyda, um jantar na sua casa. Lá conhecemos sua esposa e uma de suas filhas que serviu o jantar. Interessante que ficou o tempo todo descalça. E a salada foi servida após os pratos quentes o que era o costume lá.

Marquinhos, a esposa Cidinha e nós, fizemos uma viagem de carro até Montreal. Paramos um dia para conhecer Ottawa e lá estava o Érico Ramos Cardoso, ex-aluno meu em Goiânia, fazendo residência de Neurocirurgia no Ottawa General Hospital.

Anos antes, Érico Ramos Cardoso era um aluno brilhante na graduação, o que me chamou a atenção. Um dia conversei com ele e lhe disse para tentar fazer especialização em Neurocirurgia e de preferência no exterior onde poderia aproveitar e desenvolver melhor a sua potencialidade . Ficamos uns dias preparando cartas solicitando vaga para Neurocirurgia e enviamos para diversos serviços dos Estados Unidos e Canadá. Demorou bastante mas finalmente uma carta de aceite chegou e o Érico foi para o Canadá.

Marquinhos, a esposa Cidinha e nós, fizemos uma visita a Toronto e lá conhecemos a National Tower e lembramos nosso tempo de Londres devido  as lojas e outras pecularidades semelhantes. Fomos a Exhibition, uma feira de pecuária onde o gado ficava restrito a outra área.  Lá assistimos um show com Diana Ross, perfeita, deslumbrante.

Na noite que passamos em Ottawa, atravessamos a ponte do Rio Ottawa e fomos jantar em Hull. Isto porque,Ottawa , a capital, fica em Ontario  onde as leis locais inglesas obrigam fechamento de bares as 23 horas . Do outro lado do Rio é Quebec, com leis francesas mais liberais e os bares vão até mais tarde. A ponte fica lotada de carros às noites.

De Ottawa fomos juntos para Montreal. Passei na porta da MGiil University, onde o famoso Institute of Neurology era o modelo que eu gostaria que fosse o nosso modesto Instituto de Neurologia de Goiânia. Passamos belos dias nesta cidade. Numa noite fomos jantar num restaurante em moldes medievais. Tanto no prédio parecendo um castelo como na decoração e roupas dos funcionários. Até o cardápio era típico daquelas épocas. Havia um show durante o jantar, chamado Le Festin du Gouverneur. Os apresentadores vestidos  a caráter escolhiam pessoas da platéia para participaram dos atos. E não é que escolheram a Ilneyda e ela topou? Ela estava de macacão vermelho e subiu ao palco. Recebeu instrução de ficar atrás de uma parede e gritasse como se estivesse apanhando. Foi um sucesso. Mas o Érico, muito preocupado, receou que a tivesse dado alguma droga, mas não aconteceu nada disto. Foi uma diversão inesquecível.

Uma noite, Cidinha e Marquinho ofereceram um jantar especial para nós e convidou uma brasileira que morava em Hamilton e que se tornara amiga deles. Ela veio com o marido, um húngaro forte bem vermelho, motorista de caminhão. Ele viu um vidro com pimenta malagueta que a Ilneyda levou e perguntou o que era. Disse-lhe “pepper”, ele abriu o vidro  colocou um pouco na palma da mão. Eu pensei “nossa o cara vai chorar”. Ele colocou na boca, degustou e disse “very good”, colocou mais na boca e adorou. Ficamos de queixo caído.

Mais uns dias em Hamilton compartilhando o ambiente agradável da casa dos compadres e seus filhos e depois de 1 mês partimos para Boston.

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