Neurologista CRM 770

Paralisia Facial

O nervo facial (NF) é responsável pelos movimentos de músculos da face. Um de cada lado, o NF promove o enrugamento da testa, o piscar e fechar dos olhos, os movimentos dos lábios, da boca e das bochechas, o enrugar da pele na parte alta do pescoço. Portanto os NFs são os responsáveis pela mímica facial e podem trabalhar ao mesmo tempo ou cada um separadamente. Ou seja podemos fechar um olho só, puxar a boca para um lado, ou fazer tudo junto e até automaticamente com o ato de piscar ou de sorrir etc.

O nervo facial se origina em um núcleo de células nervosas (neurônios) que se localiza no tronco cerebral, uma estrutura componente do encéfalo, dentro da cabeça. As fibras nervosas (axônios) destes neurônios se agrupam num feixe que é o NF, que emerge do tronco cerebral bem próximo dos nervos da audição (acústico) e do nervo trigêmeo que dá a sensibilidade para a face (é o nervo que o odontólogo anestesia para tratar de dentes).

Daí o nervo facial segue por um curto trajeto até penetrar num canal dentro do osso do ouvido para sair para fora do crânio. Depois ele vai se dividindo em pequenos ramos cada um se dirigindo a um músculo da face para promover os movimentos.

O nervo facial embora predominantemente motor, possui fibras de outros núcleos ou que se agregam a ele no seu trajeto, como fibras do trigêmeo para as glândulas salivares e papilas gustativas da língua. Emite também um feixe de axônios para as glândulas lacrimais.

Quando o NF é comprometido por alguma doença, deixa de funcionar e isso promove perda de movimentos dos músculos da face, configurando a PARALISIA FACIAL. Assim a pessoa não franze a testa, não movimenta a sobrancelha, não pisca, não fecha o olho, não movimenta os músculos da metade inferior da face e a boca repuxa para o lado são. A fala fica diferente, a saliva escorre do canto da boca. A comida fica parada entre os dentes e a bochecha. Não se consegue assoviar. Há uma nítida assimetria da face devido a paralisia de um lado, porque quase sempre a paralisia é de um lado só. É muito raro que aconteça dos 2 lados. A falta do piscamento e o olho aberto provocam ressecamento com dor no olho, que pode ser a primeira coisa que a pessoa percebe.

A PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA é esta que acomete toda a hemiface. Tem o tipo PARALISIA FACIAL CENTRAL que poupa a testa e a pálpebra, o piscamento é normal, só paralisando a metade inferior da face.

A PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA (PFP) é também chamada PARALSIA DE BELL (este é o nome que consta no CODIGO INTERNACIONAL DAS DOENÇAS = CID G51.0). São várias as possibilidades capazes de provocar a PFP e todas devem ser pesquisadas para se determinar o tratamento e o prognóstico. Pode surgir após traumatismos como os que provocam fratura do osso do ouvido. Infecções próximas do NF como as do ouvido e mastoide ou as dentro do crânio como as meningites. Acidentes vasculares cerebrais são uma causa rara de PFP.

A PFP mais comum não tem causa completamente reconhecida por isso é denominada IDIOPÁTICA. Supõe-se que possa ser uma inflamação do NF dentro de seu canal no osso do ouvido. A inflamação provoca inchaço do nervo que fica espremido dentro do canal e para de funcionar. Às vezes a infeção pode ser pelo vírus do Herpes Zoster e, nesse caso, saem feridas na orelha, o que identifica a causa e orienta para o tratamento antivirótico específico.

A PFP costuma ser um achado clínico isolado mas o exame neurológico tem que ser completo e detalhado porque qualquer anormalidade encontrada além da PFP, orienta para diagnósticos diferentes. Também são necessários exames complementares de sangue para excluir doenças sistêmicas como infecções e diabetes, por exemplo.

Tomografia computadorizada do crânio e dos ossos dos ouvidos pode ser necessária se se suspeita de doenças do ouvido. Ressonância magnética do crânio é o exame de imagem de preferência porque visualiza as estruturas do tronco cerebral e a porção inicial do nervo facial. Muitas vezes é capaz de mostrar a inflamação do nervo e assim confirmar o diagnóstico.

Uma vez definido o diagnóstico de PFP idiopática, o neurologista vai explicar ao paciente do que se trata e orientar o tratamento a seguir. O prognóstico da PFP costuma ser benigno com recuperação completa na maioria do casos, mas isso demora de 2 a 4 semanas para acontecer. Portanto não é uma recuperação de imediato, nos primeiros dias.  Inclusive pode haver piora nos primeiros dias.

Cuidados com o olho são importantes porque há ressecamento, irritação, dor local. Assim evitar passar a mão ou tecidos, para não ferir o olho. Não deixar entrar água, xampu ou sabão no olho durante banho ou higiene do rosto. Pode-se usar colírios para manter o olho umedecido e até pomadas oftálmicas, o que pode ser melhor orientado por oftalmologista. Usar óculos escuros para diminuir a claridade e evitar entrar vento ou poeira no olho. Ao dormir, colocar um tampão para proteger o olho.

Ao mastigar pode-se morder a bochecha flácida, assim é necessário usar canudo para líquidos e a dieta ser pastosa para evitar a mastigação.

Abster-se de bebidas geladas e alcoólicos.

Pode-se fazer massagens na face que o neurologista vai instruir. Fisioterapia formal depois dos primeiros dias pode ser útil. Não utilizar estímulos elétricos.

O tratamento medicamentoso, a critério do neurologista, se faz durante as 2 primeiras semanas. Quanto mais precoce o início, melhor o resultado.

Depois das primeiras semanas, se não estiver recuperando, o que acontece em 1 a 2 casos em 10 pacientes, faz-se uma reavaliação, exames e eletromiografia. Este exame nos dá uma ideia do grau de recuperação para se tomar decisões sobre a conduta daí em frente.

 

 

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